Nesta montagem, desenhada como um show de rock e pontuada por canções conceituais que impulsionam a narrativa, a personagem feminina é vivida por homem e a masculina é feita por uma mulher. Já adaptado com sucesso para o cinema em 2001, o texto de John Cameron Mitchell é irreverente e transborda energia. Com ares de fábula adulta, a trama tem como protagonista um transexual da antiga Berlim Oriental, que enfrenta percalços em sua atribulada trajetória e carrega cicatrizes emocionais tangíveis, como abandonos afetivos, traições e uma cirurgia de mudança de sexo não bem sucedida – daí o título debochado. Sua meta, além de vencer como artista nos Estados Unidos, é encontrar um grande amor. Confusa em algumas passagens, e com escassas alusões ao contexto político da ação, como a queda do Muro de Berlim e suas conseqüências no destino de Hedwig, a peça desembrulha a história desse personagem em busca da auto-afirmação e de uma identidade. Ao cabo da jornada, ele irá perceber que vivenciou um dolorido rito de passagem.Dirigido por Evandro Mesquita, o musical não segue o formato original de monólogo. O ex-integrante do irrequieto Asdrubal Trouxe o Trombone e líder da banda Blitz, optou por usar em cena dois atores (Pierre Baitelli e Felipe Carvalhido) para interpretarem o personagem central. Embora sem a profundidade necessária, o recurso não só acentuou a ambigüidade como enriqueceu dramaturgicamente o papel – Hedwig encarna um tipo andrógino, metade feminino e outra masculino. No palco, emerge como um ser amargurado e repartido. Uma divisão, por sinal, que o autor foi buscar em O Banquete, de Platão, obra seminal sobre o sentido e as implicações do amor. Mesquita sublinha essa natureza dupla do personagem equilibrando porções de ironia e dor, com marcas dinâmicas e ritmo vibrante, que aproximam a platéia do mundo conturbado da protagonista.
Com desempenhos irrepreensíveis, Baitelli e Carvalhido exibem vozes afinadas e enriquecem as cenas transpirando as nuances de uma figura complexa, de infância sexualmente desordenada e tingida por uma série de decepções.Única mulher no elenco, Eline Porto, dotada de belíssima voz, dá vida à Yitzhak, ex-drag queen que se disfarça atrás de um bigode, responsável por ajudar a contar a história de personagens que passaram pela vida de Hedwig. Pouco desenvolvido, especialmente no que se refere à sua relação conflituosa com a protagonista, Yitzhak não modifica e tampouco soma densidade à narrativa. Suzane Queiroz assina a cenografia, de difícil definição, que dialoga com as videoprojeções, formada por um curioso roteiro de animação e imagens. Os figurinos de Marta Reis, de tons fortes e exuberantes, atendem à proposta de trazer graus de impacto visual ao espetáculo. A banda, que ilustra o enredo desfiando um repertório popular de canções glam-rock, às vezes pesa a mão nos decibéis, o que compromete o entendimento das letras e, consequentemente, da história contada . O tom histérico talvez seja proposital para realçar o universo instável, trovejante e comovente de Hedwig. (Vinicio Angelici - viniange@ig.com.br) (Foto Rodrigo Esper)
Avaliação: Bom
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Hedwig voltará? Noticias pleaaase
Hedwig está de volta!
Dia 6 de abril estreia a temporada popular carioca no Teatro Café Pequeno, de quinta a domingo sempre as 20hs.
De 26-29 de abril realizaremos apresentações no Teatro da Caixa em Curitiba.