Uma Mulher, Uma Beleza Que Me Aconteceu
Pense na explosão sexual de “Rock Horror Show”. Lembre da forte identidade visual dos Dzi Croquettes. De porte dessas duas referências de linguagem e imagem, você já estará pronto para ir até o Teatro Nair Bello em São Paulo assistir ao musical “Hedwig e o Centímetro Enfurecido” espetáculo Off-Broadway que estreou em 1998, virou um grande filme e arrastou uma pequena, mas eficiente, legião de adoradores para os cinemas brasileiros, em pleno 2001, para assistir à saga de um transexual pra lá de maluco e genial.
Eu confesso que tinha medo de comprar meu ingresso. Esse filme, há muito já um clássico nas minhas intermináveis prateleiras de DVD, parecia me dizer “não vá até lá que é fria”, mas eu não resisti. E me dei bem. A montagem desse texto de John Cameron Mitchell agora dirigida por Evandro Mesquita confirma os mil talentos desse ator e “bandleader “ e pega de surpresa uma turma que ainda insiste em lembrar dele somente como o garoto-propaganda da Blitz, esse grupo de rock/pop que tomou de assalto o Brasil dos anos oitenta. Evandro Mesquita já não era inocente quando o sucesso chegou na sua vida: a mocidade independente do Asdrúbal Trouxe o Trombone já havia feito parte de sua vida nos setenta. Regina Casé, Luis Fernando Guimarães, Hamilton Vaz Pereira e tantos outros, já tinham virado sua família quando ele, munido de letras espertas e roquinhos sensacionais, inaugurou a Blitz. E o resto é história. Blá blá blá blá, ti ti ti ti ti …
Hedwig teve sua estréia no Rio de Janeiro com o mesmo Pierre Baitelli (“O Despertar da Primavera”) e um inesperado Paulo Vilhena fazendo o lado “ruivo” da loira Hedwig que aqui em São Paulo é substituído, com muito mais fúria e talento, pela “morena” Felipe Carvalhido. No forte contraponto, o menino-mulher Eline Porto que entrega forte dramaticidade à sua personagem. Junto com eles, uma banda em alto e bom som explodindo as versões em português das canções originais que se tornam aqui no Brasil, peça ainda mais fundamental da história devido as traduções competentes e coerentes de Jonas Calmon Klabin.
E na platéia todas as reações passam em desfile: uns choram de emoção, uns aplaudem em cena aberta, outros gritam ao final das canções, outros saem dançando pelas laterais do teatro. Uma catarse compatível com a tragicômica vida de Hedwig contada ali no palco. Não dá perder. Dá vontade de repetir. É o que eu vou fazer hoje. Te espero lá.
Postado por DJ Zé Pedro em http://djzepedro.uol.com.br/texto.php?id=179