Crítica Almanaque Virtual – 10/09/2011

Evandro Mesquita dirige com naturalidade rock musical em cartaz em SPDepois de uma longa temporada de sucesso no Rio de Janeiro, Hedwig e o Centímetro Enfurecidochega ao Teatro Nair Bello, em São Paulo. O musical off-Broadway que está sendo montado pela primeira vez no Brasil foge dos espetáculos do gênero que são apresentados por aqui. Ele é voltado para a cultura underground do Rock, o que pode não agradar a todos. Entretanto, as qualidades artísticas são tantas que tem potencial para encantar até os que não se identificariam com esse estilo. Hedwig é uma peça singular, rara e excelente, alem de ousada e inovadora.

A história de Hedwig e o Centímetro Enfurecidoé sobre o jovem Hansel, que vive na Alemanha Oriental e que já tinha seu lado transformista desenvolvido, mas se dispõe a sacrificar seu órgão reprodutor para fugir do comunismo e virar mulher de um soldado americano, adotando o nome de Hedwig. A operação dá errado e resta a ele, viver com o centímetro enfurecido que restou e dá título ao espetáculo, além de ser o nome de sua banda. Hedwig acaba abandonado no interior americano, tendo sido traído por seu novo amor, Tommy Gnosis, filho de um oficial do exército, que roubou suas canções e virou a estrela do rock, que Hedwig deveria ser.

A direção nacional do espetáculo de John Cameron Mitchell fica a cargo de Evandro Mesquita, que tem pleno domínio musical e se revela uma escolha das mais acertadas. Evandro tem uma naturalidade grande em cena, influência de sua experiência com o grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone e como líder e vocalista da Blitz, que sempre teve suas características teatrais. É dele a idéia de usar em cena, dois atores para interpretar Hedwig (fato que só acontece na montagem brasileira) e além de valorizar a montagem nacional, amplia a ambigüidade da figura central. A trilha de Stephen Trask tem harmonia sui generis com o espetáculo.  Influências de pós punk e glam-rock são características de Hedwig.

A montagem paulista não conta com o ator Paulo Vilhena, que é substituído por Felipe Carvalhido.Eline Porto e Pierre Baitelli continuam nos mesmos papéis: Yitzhak, o marido menosprezado de Hedwig, e Hedwig, respectivamente. A peça tem uma interessante inversão aqui, as personagens femininas são feitas por homens e a personagem masculina é feita por uma mulher. O trio de protagonistas brilha em cena e não falta talento a eles. Eline Porto já tinha experiência em musicais, como “O Despertar da Primavera“.

Hedwig e o Centímetro Enfurecido lida de forma precisa com amor, dor, fama e auto-aceitação. É preciso saber a dose exata e o texto consegue esse amalgama, mantendo a energia e o entusiasmo das personagens. Especialmente quando a montagem é feita num formato que mescla show de rock com monólogo cômico. O espetáculo além de envolvente é rico em texturas emocionais. A sonoridade pesada encontra respaldo e também vale destacar os figurinos de Marta Reis e a inteligente e bela programação visual de Tânia Grillo.

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