Blyme 19/09/10

Na última sexta, dia 16, estreou o musical Hedwig e o Centímetro Enfurecido no Teatro das Artes doShopping da Gávea, Rio de Janeiro.

Isso mesmo, trata-se de uma adaptação do espetáculo Hedwig and The Angry Inch de John Cameron Mitchell, que baseou o filme homônimo (2001 — no Brasil Hedwig — sexo, rock e traição)!

A peça conta a história da travesti Hedwig, líder de uma banda de rock ( The Angry Inch, por aqui O Centímetro Enfurecido). Hedwig, nascido Hansel na Berlim Oriental, percorre os EUA com sua banda enquanto conta a história de sua vida e segue a turnê do popstar Tommy Gnosis, o ex-namorado que roubou suas composições.

Também conhecida como “uma odisséia do rock anatomicamente incorreta”, Hedwig mistura drama, comédia e muita música em uma história cativante e universal sobre a busca do próprio eu — e do amor.

Há alguns anos, desde que vi um documentário sobre Hedwig ( o extra do dvd americano) e soube que a peça original teve dezenas de montagem ao redor do mundo, fiquei obcecada em viajar para assisti-la. Por isso quase não acreditei quando meu noivo falou sobre a montagem tupiniquim! Passei o dia sorrindo feito uma boba, em especial quando vi a linda foto do cartaz. Não entendi como não soube da peça antes, mas não tenho do que reclamar, assisti praticamente na estréia e não precisei despencar para São Paulo para prestigiar o espetáculo.

O cantor e ator Evandro Mesquita  encarregou-se da adaptação e direção da montagem pioneira no Brasil. Os atores Pierre Baitelli e Paulo Vilhena dividem o palco no papel duplo da personagem-título Hedwig, enquanto Eline Porto, também travestida (de homem)  incorpora Yitzhak.

Para encarnar Hedwig, Pierre usa a peruca loira, mais clássica (e em um detalhe totalmente irrelevante — ou não- é a Hedwig mais bonita que já vi), já Paulo, irreconhecível, traja um modelo curto e ruivo. À princípio imaginei que os atores fossem revezar nos dias de espetáculo, mas eles atuam juntos mesmo. Esta solução é única da adaptação brasileira. Eu gostei bastante da idéia, já que Hedwig representa a dualidade e este tema está presente em toda a obra. Lindo.

Pierre também interpreta o cantor Tommy Gnosis em algumas cenas, o que também gera um conceito muito interessante e poético, já que Hedwig acredita que Tommy é a sua alma gêmea, a “metade da sua laranja”.

Embora o nome mais conhecido da peça seja o do ator Paulo Vilhena, acho que Pierre Baitelli é quem rouba a cena com sua voz, presença e beleza andrógina.

Eline Porto arrasa como o ex-travesti Yitzhak, consegue encantar mesmo ao interpretar a música d’ O Guarda Costas com Whitney Huston e quem viveu nos anos 90 sabe que isso é um grande feito. Que voz maravilhosa!

Gostei da adaptação do texto, muito dinâmico, divertido, desbocado mesmo, o que foi um alívio… !

Um dos trunfos da peça foi a regionalização do texto, citações de personalidades, gírias e outros elementos da cultura nacional que ajudaram a aproximar a história do público. Apesar disso, ao mesmo tempo, pecou pelo  excesso de expressões e frases em inglês. Havia a  necessidade de cantar“Lift up Your Hands” em inglês no Midnight Radio ? Percebi que esta escolha confundiu o público, apenas quem interagiu levantando as mãos foram as fileiras reservadas da frente, certamente compostas por colaboradores e amigos da equipe da peça e alguns fãs mais obcecados e sem noção como eu. Vimos um Hedwig quase despido de seu adorável sotaque alemão… em alguns momentos ele lembrava mais um americano.

Como a fangirl que sou, tive um pouco de medo das adaptações das músicas, já que  a maioria das canções narra a história e não podem ser adaptadas muito livremente ou perdem todo o sentido… mas no final das contas, gostei do resultado geral! (embora continue implicando com o excesso de inglês. Para quê fazer tanto paralelo com o original?) Eu não sou entendida em música, mas achei a banda excelente.

Minhas adaptações favoritas foram as canções Papa Anjo(Sugar Daddy - podem falar o que quiser, achei genial a brincadeira com nome de doces ), Peruca Encaixotada (Wig in a Box) e Mundo Cruel (Wicked Little Town), enquanto a músicaCentímetro Enfurecido (Angry Inch) foi da qual menos gostei. Mesmo a frase bem sacada  “agora não me enche” (I got an angry inch) não coube muito bem na boca dos cantores, achei que poderiam abusar um pouco da liberdade e cantar enche igual a inch.  Ou será que estou sendo muito preciosista?

De qualquer modo, saí dessa peça, feliz, cantando, louca para ver tudo, tudo de novo. =)

Enfim, estas são as minhas impressões, apesar das críticas inevitáveis, acho que é um espetáculo único, que merece ser visto e conhecido. Carecíamos há muito tempo de uma adaptação de Hedwig, por isso estou muito agradecida a quem quer que tenha tido esta idéia brilhante.  E como sempre ressalto aqui, quem puder deve tentar prestigiar a obra e tirar suas próprias conclusões.  Vamos ao teatro!

http://blyme-yaoi.com/main/2010/09/19/musical-hedwig-e-o-centimetro-enfurecido-no-rio/

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